Galinhas e ratazanas
(texto publicado no Diário de Coimbra de 3 de janeiro de 2025)
Há vários anos que trato da criação de galinhas herdada do meu pai. Não só acompanho a minha mãe numa atividade que ela aprecia (e eu também), como tenho ovos livres de pesticidas.
Por isso, quando há cerca de três anos uma colónia de ratazanas se instalou na capoeira, fiquei sem saber como eliminá-las, pois não queria usar venenos. Eram ratazanas grandes, com cerca de 15 cm de comprimento, descontando a cauda.
Comecei por tapar sistematicamente todas as entradas dos túneis que abriam no chão de terra, na esperança de que se mudassem. Mas elas abriam continuamente novas entradas. Passei depois a colocar armadilhas, usando como isco queijo e bocados de carne, mas elas ignoravam-nas. Ainda apanhei uma ou duas juvenis, mas quase não se notou na população. Nos filmes os ratos gostam muito de queijo, mas aquelas ratazanas não deviam ter visto esses filmes.
Desisti durante algum tempo, até porque não havia sinais de elas atacarem nem as galinhas nem os ovos. Mas a população estava cada vez mais numerosa, e decidi que deveria haver alguma coisa que eu pudesse fazer para elas se irem embora. Era preciso estudá-las e ver qual o seu ponto fraco, que todos os animais têm algum (ou assim eu esperava).
Como nem sequer as conseguia observar devidamente, pois elas são muito furtivas e essencialmente noturnas, decidi instalar na capoeira uma pequena câmara de filmar com sensibilidade para filmar também durante a noite. Não estava à espera do resultado: durante a noite elas banqueteavam-se com os cereais das galinhas! Cheguei a contar mais de dez em festa na comida das galinhas. Tornou-se evidente qual o ponto fraco delas: a alimentação. Elas estavam ali porque tinham comida em fartura, o que também explicava o aumento da sua população.
Mas como conseguir que as galinhas se conseguissem alimentar, sem que as ratazanas tivessem acesso? Nos buracos onde as galinhas conseguem enfiar a cabeça também as ratazanas conseguem entrar. Algumas procuras na internet forneceram-me a solução: há comedouros que distinguem as galinhas das ratazanas ... pelo peso! As grandes soluções são as soluções simples. Assim, mandei vir uns comedouros em que a comida está sempre tapada. Em frente do comedouro há uma plataforma que, quando tem uma galinha em cima, faz mecanicamente levantar a tampa do comedouro, e as galinhas conseguem comer. Mas os ratos, como são mais leves, não conseguem acionar a plataforma e a tampa não levanta.
Mas ainda não ficou solucionado o problema, pois as galinhas, ao debicarem os cereais, espalham uma boa parte para fora do comedouro que serve de alimento aos ratos. Depois de muito pensar optei por comprar uns tabuleiros metálicos, como os que são usados nas cantinas para preparar a comida e cobri-os com uma rede metálica fina sobre a qual coloquei os comedouros. Assim, os cereais espalhados pelas galinhas caem para dentro do tabuleiro, e a rede não permite o acesso das ratazanas.
Cheias de fome, as ratazanas não se foram propriamente embora, mas interessaram-se finalmente pelas ratoeiras, onde passei a deixar cereais como isco, e não queijo. No espaço de poucas semanas, tinham sido todas capturadas. Há mais de um ano que não há lá nenhuma - a população desapareceu.
É um velho princípio ecológico: nos ecossistemas as espécies desenvolvem-se se tiverem alimento. Retira-se o acesso à comida e a espécie torna-se inviável. Tão simples.
Ficheiros
- Abrir galinhas.pdf 2.0 MB