Manifesta

(texto publicado no Diário de Coimbra de 2 de outubro de 2025)

A Manifesta, que conforme foi recentemente anunciado decorrerá em Coimbra em 2028, é muito mais que uma simples exposição de arte contemporânea, como resulta da sua missão:

"A Manifesta reformula as relações entre a cultura e a sociedade, investigando e catalisando mudanças sociais positivas na Europa através da arte, da arquitetura e do urbanismo, em diálogo contínuo com as comunidades das suas cidades-sede. Acreditamos na criação de legados sustentáveis ​​numa sociedade em transformação."

A Manifesta não é, portanto, apenas um conjunto de objetos artísticos que o público pode visitar durante um certo período de tempo. Para além dessa componente, procura concretizar transformações duradouras em cada cidade onde se instala.

Por exemplo, no Ruhr, onde decorrerá a edição da Manifesta anterior a Coimbra (o Ruhr é a região mais industrializada da Alemanha, com cerca de 10 milhões de habitantes), o objetivo é dar um novo uso a algumas das muitas igrejas abandonadas na região. Calcula-se que, devido à diminuição da adesão das pessoas à religião, cerca de 50% das igrejas alemãs sejam encerradas nos próximos 10 anos. A Manifesta espera conseguir reorientar alguns desses espaços para serem centros cívicos e culturais, que promovam o diálogo, a coesão comunitária e a inovação artística.

Em Coimbra a ambição já foi enunciada: ajudar a recuperar a Rua da Sofia, para que assuma em pleno a sua condição de património da humanidade. É uma tarefa difícil pois, ao contrário do Pólo I da Universidade, que já está quase todo renovado, a Rua da Sofia apenas teve intervenções muito pontuais. A grande diferença resulta de o Pólo I ser quase todo pertença da Universidade de Coimbra, enquanto os edifícios da Rua da Sofia são quase todos propriedade privada, com um grande número de donos diferentes. Não tem sido fácil, e vai continuar a ser difícil, intervir numa zona com a propriedade tão fragmentada. Pode ser que a Manifesta consiga catalisar a transformação necessária, aproveitando também a oportunidade que o funcionamento em pleno do MetroBus representará, pois aumenta muito a acessibilidade da Rua da Sofia, o que permite eliminar uma boa parte do trânsito que atualmente a atravessa. 

Mas a Manifesta vai ter para Coimbra um impacto muito maior do que isso, pois coloca-nos na primeira divisão europeia. Atrevo-me a dizer que a sua importância ultrapassa a que teria Coimbra ser a capital europeia da cultura, pois é um evento mais raro (só ocorre de dois em dois anos) e o seu alcance comunicacional é porventura superior.

É notável Coimbra ter sido escolhida, pois é a mais pequena e periférica cidade escolhida para a Manifesta. O Círculo de Artes Plásticas, a Câmara Municipal e a Universidade estão de parabéns por terem conseguido, com o apoio do Governo, colocar Coimbra ao lado de locais tão exclusivos como Barcelona, Marselha, Zurique, S.Petersburgo, Liubliana, Luxemburgo, Frankfurt/Main. E Roterdão, onde a Manifesta nasceu.

Acima de tudo, a vinda da Manifesta mostra às pessoas da cidade, de Portugal e do mundo, que Coimbra é local de futuro. Que se constrói sobre um passado memorável e um património fantástico. Uma cidade cheia de vitalidade para se reinventar continuamente e ser coautora, e não mera expectadora, da construção do futuro do mundo. É nesta mudança de perceção que a vinda da Manifesta mais nos ajuda. Aproveitemo-la em pleno.

 
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