Diplomas

(texto publicado no Diário de Coimbra de 2025-04-04)

Um diploma é um objeto com grande importância social, mas o seu valor no século XXI é muito diferente do seu valor no século XIX.

Nem todos veem a mesma coisa num diploma, principalmente do ensino superior. Um bacharelato ou uma licenciatura, até há umas décadas atrás, era sinónimo de emprego garantido. Compreende-se que assim fosse: quando a Universidade de Coimbra era a única universidade portuguesa só tinha alguns milhares de alunos. Representavam uma percentagem tão minúscula da sociedade que, tivessem aprendido muito ou pouco, iam seguramente ter um emprego para a vida, comparativamente bem pago.

Com a República foram criadas mais universidades e, devagarinho, o número de diplomas do ensino superior foi crescendo. No início da década de setenta, com a chamada reforma Veiga Simão, o número de universidades aumentou substancialmente, processo que se acentuou muito após o 25 de abril, pelo que os diplomas de licenciatura, antes raros, se foram tornando comuns. Atualmente perto de metade dos adultos profissionalmente ativos têm formação superior. É um claro sinal do desenvolvimento da sociedade portuguesa. 

Ora, sendo muito mais comuns, os diplomas deixaram de dar emprego garantido. Há poucas décadas houve manifestações em Portugal para reivindicar o direito a um emprego estável, na área de formação, para todos os diplomados. No fundo, estavam a dizer que queriam ter, agora que tinham atingido a almejada qualificação, o mesmo que os licenciados tinham no século XIX e durante a maior parte do século XX: um emprego para a vida, bem pago. Só que isso apenas era possível quando havia poucos diplomas. A ausência de garantia de emprego para todos os diplomados é também, paradoxalmente, uma evidência de desenvolvimento: nos países mais avançados do que o nosso essa garantia já tinha desaparecido há muito.

Para que serve então tirar um curso superior? Entre outras razões, para ter uma vida mais desafogada, pois a diferença salarial entre quem tem e quem não tem curso superior é significativa. As pessoas com curso superior executam, em regra, funções mais complexas e exigentes e, portanto, mais bem remuneradas.

Importa, pois, perceber a mudança que o século XX trouxe: não é o diploma que dá o emprego, mas sim as competências avançadas que, em princípio, os detentores de um diploma possuem. Elas têm de ser demonstradas no dia-a-dia. Ter o diploma sem as competências de pouco serve. Já o inverso é verdade: quem tem as competências, mesmo sem ter um diploma, consegue o tal emprego, ainda que possa ter dificuldades maiores ao início, uma vez que, em regra, os empregadores só procuram essas competências junto de quem tem diploma.

Há 100 anos, quem possuísse um diploma, mesmo que tivesse cabulado muito e aprendido pouco, acabava por encontrar o tal emprego. Agora, quem tem diploma só consegue um emprego se mostrar que o diploma corresponde mesmo a uma competência elevada. Tirar um curso com batota, ou numa escola pouco exigente, só para ter o canudo, de pouco serve, pois, isoladamente, um diploma é apenas um papel com umas letras impressas.

 
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