A Inteligência Artificial e o emprego

(texto publicado no Diário de Coimbra de 9 de agosto de 2023)

A Inteligência Artificial (IA) vai substituir os humanos? Os avanços técnicos recentes, simbolizados pelo ChatGPT da OpenAI/Microsoft e pelo Bard da Google, levantam esta questão. 

Quem já interagiu com qualquer destes programas teve oportunidade de verificar que, de facto, eles conversam em linguagem natural (em muitas línguas, incluindo português) de uma maneira sofisticada que, de todo, não era possível antes. Mas não passam o teste de Turing.  

Alan Turing (1912-1954) é um dos pioneiros dos computadores, tendo também sido responsável por decifrar os códigos mais seguros usados pelos alemães na segunda guerra mundial, o que deu aos aliados uma vantagem decisiva. Na inteligência artificial, ele propôs um teste simples para determinar se um computador pensa: para uma máquina ser inteligente, um interrogador humano não pode ser capaz de a distinguir de um humano. 

Ora, quer o ChatGPT quer o Bard não enganam ninguém: são facilmente apanhados em contradições, erros e raciocínios que nenhum humano faria. Mas será uma questão de tempo resolver essas limitações? Talvez se consiga resolvê-las, mas não estamos próximos disso. Com efeito, a IA é uma ferramenta estatística; produz resultados prováveis, mas não necessariamente certos. Aliás, com frequência, errados. Em vez de IA talvez se lhe devesse chamar estatística aplicada. As limitações da IA podem ser, e serão nos tempos mais próximos, atenuadas, mas há incapacidades fundamentais que a tecnologia atual não consegue resolver. Uma delas é a previsibilidade: como não se consegue prever que resposta vai ser dada, em particular se está certa ou errada, a confiança que podemos ter na IA é limitada. 

Podemos daqui concluir que afinal não há perigo para o mercado de emprego? De forma alguma. A tecnologia por trás do ChatGPT, a IA generativa, vai ter um grande impacto no mercado de emprego. Apesar de ter limitações, há muitas tarefas que consegue executar bem, como seja escrever pequenos textos sobre um tema qualquer, ou prestar esclarecimentos em áreas concretas. Um dos setores de emprego onde o impacto será maior são os serviços de apoio ao cliente, os call-centers, pois se os computadores já respondem atualmente a muitas questões, com a sua nova capacidade de dialogar em linguagem corrente vão ser capazes de abranger muito mais situações. A British Telecom, que é a principal operadora de telecomunicações do Reino Unido, já anunciou que espera eliminar em poucos anos cerca de 10 mil empregos (aproximadamente um décimo do total) graças à IA. 

Outra área em que a IA generativa vai ter muito impacto é a arte e o design, pois aí não há propriamente um certo e um errado - a distância entre o bonito e o feio é muito subjetiva. A ferramenta porventura mais conhecida para gerar imagens é o DALL-E, também da open AI. Mas não é só na imagem; muito recentemente os Beatles anunciaram que vão editar este ano uma última canção do grupo, em que usam uma gravação feita por John Lennon há muitos anos, mas que, até agora, não era possível usar, por ter muito ruído, problema que foi agora resolvido: uma ferramenta de IA conseguiu eliminar o ruído com muita eficácia.  

Não é fácil dizer se, no computo geral, a IA vai eliminar mais empregos do que os que cria.  Outros avanços mais antigos que tiveram grande impacto no emprego vêm à memória: por exemplo os empregos agrícolas diminuíram imenso com o aparecimento dos tratores. Mas essa evolução tecnológica criou muitos outros empregos para onde se moveram os que trabalhavam no campo. 

Uma coisa é certa: quem vai ficar para trás é quem não souber usar as novas ferramentas de IA, pois elas permitem acelerar imensas tarefas. Saber usar ferramentas para gerar textos, por exemplo, vai passar a ser um requisito para muitos empregos. É certo que esses textos quase sempre exigem revisão, mas tornam a escrita muito mais rápida. 

A IA generativa tem muitos perigos noutras áreas, mas essa discussão fica para outra altura. 

(este texto não foi escrito com ajuda de ferramentas como o ChatGPT) 

 
Ficheiros
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