Sofrimento e Trauma

Ano
1
Ano lectivo
2023-2024
Código
02019656
Área Científica
Sofrimento Social
Língua de Ensino
Português
Modo de Ensino
Presencial
Duração
Semestral
Créditos ECTS
8.0
Tipo
Obrigatória
Nível
2º Ciclo - Mestrado

Conhecimentos de Base Recomendados

- Conhecimentos básicos relacionados com a experiência e memória do trauma, numa perspetiva cultural.

- O estudante deve ter conhecimentos básicos sobre as relações entre Medicina, Espiritualidade e Religião.

Métodos de Ensino

Os métodos de ensino incluem exposição teórica sobre os conteúdos temáticos, com incentivo à participação e discussão dos alunos. Serão utilizados slides e/ou outro material pedagógico considerado apropriado aos objetivos da Unidade Curricular.

Resultados de Aprendizagem

1. Apreender uma perspetiva transcultural sobre trauma, adaptação e resiliência

2. Reconhecer as limitações do discurso biomédico, associado ao trauma

3. Valorizar a necessidade de integração das diferentes perspetivas sobre o trauma: biológica, clínica e cultural.

 

Definir sofrimento. Apreender a diversidade de perspetivas sobre saúde e sofrimento, no contexto cultural.

Estágio(s)

Não

Programa

Memória e Trauma (Luís Quintais)

Pretende-se, com o presente programa, conduzir os mestrandos para um conjunto de debates que se prendem com a historicidade e as implicações da memória e do trauma. O percurso terá por centro uma nosologia particular (a Post-traumatic stress disorder), procurando-se, a partir dela, revisitar uma etnografia desenvolvida na década de noventa do século passado. Será, pois, um trabalho sobre a memória que tem, por seu turno, a memória do antropólogo/etnógrafo como eixo crítico de revisão e esclarecimento. Pretende-se, em particular, mostrar os limites e as aporias que se instalam na perspetiva então adotada.

 

Sofrimento, medicina e religião (Padre Anselmo Borges)

a. Conceções de Homem e medicina, mostrando como a conceção de Homem que se tenha (dualista, materialista ou idealista, emergentista: monismo dual) influencia a atitude médica. b. O Cuidado, a partir da perspetiva de Martin Heidegger. c. Conceito holístico de saúde, pondo reservas à conceção do da OMS. d. Existência humana, finitude e sentido, mostrando como, concretamente a partir da perspetiva de Viktor Frankl, a relação ao sentido é decisiva para a cura. d. Sofrimento, morte e religião/religiões, numa conceção que condena o dolorismo, mas integra o sofrimento e a morte na vida, e mostrando, a partir de estudos científicos, sobretudo americanos, como a religião (que religião?) pode ajudar na cura e de que modo.

 

Sofrimento social e violência I (Drª Maria José Hespanha)

Trata-se de uma problemática complexa — muitas vezes envolta em silêncio e, por isso, difícil de quantificar — produz considerável sofrimento e consequências negativas para a saúde, para o qual não há respostas fáceis mas que urge combater em tempo útil.

 

O sofrimento social atinge todos os grupos e contextos sociais mas é vivenciado de diferentes maneiras.

As condições concretas de vida das pessoas determinam o seu estado de saúde e de doença.

Temos assistido e mudanças sociais muito aceleradas. Estas têm criado ou exacerbado modelos que dramatizam várias formas de dualização, tais como o enfraquecimento dos coletivos institucionais, o culto excessivo ao individualismo e a novas formas de exclusão social.

Nas sociedades contemporâneas há dois imaginários prevalentes: o da excelência e o da inutilidade. No primeiro, destaca-se a ideia de triunfo, de excelência, de qualidade total, de perfeição e da superação de si próprio (Erenberg, 1998). Neste cenário, destacam-se os valores de inserção, de carreira, de poder e de qualificação social. Por outro lado, têm surgido novas formas de exclusão, produzindo o imaginário de inutilidade, de fracasso, de falta de inserção e de desqualificação.

Estes dois imaginários estão presentes no conjunto da sociedade e funcionam de modo associado. Eles fazem surgir fortes angústias, geradas pela instabilidade presente em ambos, mesmo que se apresentem de forma bastante diferenciada.

 

Guerras e Psiquiatria: A guerra como desastre - consequências psicológicas (Monteiro Ferreira)

Em mais de 100 conflitos bélicos que se produziram nos últimos quinze anos, 80 por cento das vítimas são civis. De modo acelerado, regista-se um importante desenvolvimento nas investigações respeitantes às consequências psicossociais da guerra na população civil, a qual é a fonte principal das vítimas na guerra contemporânea. Esta comunicação constitui uma reflexão acerca de por quê a guerra é considerada um desastre, uma revisão acerca dos conceitos modernos de ―guerra total‖, desastre e as consequências psicológicas da guerra na população civil, a utilização das crianças como soldados (o que acarreta distúrbios mentais graves) e aborda-se o problema da violência sexual como arma de guerra. As mulheres, as jovens e inclusivamente as meninas são amiúde raptadas, violadas, sequestradas e forçadas à escravidão sexual ou a qualquer outro tipo de abuso sexual; são vexadas, humilhadas e lesadas no mais profundo dos seus sentimentos psicológicos, éticos e morais, o que transborda também para o grupo social, comunidade, classe social ou etnia a que pertencem. A deterioração ou a destruição da infraestrutura económica, social e política das nações em conflito impede a atenção às necessidades básicas da população. O distúrbio por stress pós-traumático é a entidade nosológica mais frequente entre as vítimas da guerra, mas existem outros distúrbios mentais que é preciso ter em conta.

Métodos de Avaliação

Contínua
Trabalho de síntese: 100.0%

Bibliografia

Hacking, Ian (1995), Rewriting the Soul: multiple personality disorder and the sciences of memory, Princeton, Princeton University Press.

Hacking, Ian (1996), "Memory sciences, memory politics", in Paul Antze e Michael Lambek (ed.), Tense Past: cultural essays in trauma and memory, Londres e Nova Iorque, Routledge.

Kleinman, Arthur (1995), "Violence, culture, and the politics of trauma", in Writing at the Margin: discourse between anthropology and medicine, Berkeley, Los Angeles e Londres, University of California Press.

Quintais, Luís (2000), As Guerras Coloniais Portuguesas e a Invenção da História, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais.

Young, Allan (1995), The Harmony of Illusions: Inventing Post-Traumatic Stress Disorder, Princeton, Princeton University Press.

Young, Allan (1996), "Bodily memory and traumatic memory", in Paul Antze e MIchael Lambek (ed.), Tense Past: cultural essays in trauma and memory, Londres e Nova Iorque, Routledge.

 

Religion, Health and Suffering (1999). Edited by John Hinnels and Roy Porter. Kegan Paul International

Eric J. Cassell (1991). The Nature of Suffering and The Goals of Medicine. Oxford University Press.