Antropologia Médica
1
2016-2017
02019633
Antropologia
Português
Presencial
Semestral
10.0
Obrigatória
2º Ciclo - Mestrado
Conhecimentos de Base Recomendados
Conhecimentos básicos sobre imigração e fluxos migratórios. Conhecimentos básicos sobre os contributos da sociologia e da antropologia para a compreensão do fenómeno migratório nas sociedades contemporâneas.
Conhecimentos básicos sobre estudos sociais das ciências e da medicina.
Conhecimentos básicos sobre os contributos da antropologia médica crítica, em relação à teoria e prática psiquiátricas.
Informações básicas sobre a “era colonial” da psiquiatria cultural.
Métodos de Ensino
Os métodos de ensino incluem exposição teórica sobre os conteúdos temáticos, com incentivo à participação e discussão dos alunos. Serão utilizados slides, vídeos e/ou outro material pedagógico considerado apropriado aos objetivos da Unidade Curricular.
Resultados de Aprendizagem
Valorização dos elementos biográficos e das histórias de vida na análise do processo migratório. Reconhecimento da importância dos aspetos históricos, sociais e culturais no contexto clínico, associados ao processo migratório.
Apreender a importância dos estudos sociais da ciência e da biomedicina. Reconhecer as limitações e aspirações da biomedicina enquanto teoria explicativa.
Explorar criticamente a teoria diagnóstica em psiquiatria, numa perspetiva antropológica.
Apreender os elementos coloniais da psiquiatria cultural, numa perspetiva histórica e antropológica.
Refletir sobre os contributos para uma antropologia da bioética.
Estágio(s)
NãoPrograma
Bioética e relativismo cultural (Professor António Barbosa)
1. Práticas sanitárias e relativismo cultural
2. Duplo padrão em investigação biomédica
Cultura e diagnóstico psiquiátrico (Professora Chiara Pussetti)
Pesquisa biográfica, migrações e saúde: Implicações teóricas e práticas (Professora Elsa Lechner)
No encontro terapêutico entre imigrantes e prestadores de cuidados domésticos as questões clínicas são atravessadas por decisivos factores de ordem social, histórica e cultural, como por exemplo a situação de vulnerabilidade dos migrantes perante o Estado (serem ou não documentado/as); a herança de um passado colonial comum em lugares assimétricos (colonizadores e colonizados); as referências simbólicas e linguísticas de quem padece e de quem cuida (língua, linguagens, cultura, culturas terapêuticas, tradições médicas, cosmovisões).
Mesmo antes de chegar aos espaços institucionais de diagnóstico e de cura (hospitais, consultas, medicamentos), o sofrimento dos migrantes apresenta-se como um ―terreno‖ que permite conhecer os contextos onde os sintomas de mal-estar surgem, se intensificam ou acalmam, encontram fim ou perduram. Para conhecer tais contextos é necessário um contacto directo com o/as migrantes que vise as histórias de vida e percursos biográficos do/as mesmo/as.
Este módulo oferece uma análise teórica e prática do contributo da Pesquisa Biográfica para o estudo das migrações e saúde. Faremos uma revisão do estado da arte da Pesquisa Biográfica no seu crescente contexto interdisciplinar; análises aprofundadas de casos concretos a partir dos nossos terrenos de investigação; e uma reflexão sobre a teoria desta prática no âmbito específico da saúde mental.
O módulo pode ser acrescentado de uma oficina experimental para que os interessados façam a experiencia dos efeitos formadores, transformadores e cívicos do trabalho com e sobre histórias de vida.
Psicopatologia e Sociedade: Aproximações Etnográficas (Professor João Vasconcelos)
Esta unidade curricular pretende explorar as inter-relações entre psicopatologia e sociedade e estimular a reflexão acerca da universalidade da nosologia psiquiátrica. Serão as categorias nosológicas da tradição psiquiátrica directamente traduzíveis para outras tradições culturais? Será analiticamente adequada uma tradução directa de ―depressão‖, ―histeria‖ e ―esquizofrenia‖ por ―perda de alma‖, ―possessão espiritual‖ e ―êxtase místico‖? Diferentes linguagens limitar-se-ão a rotular diferentemente as mesmas patogenias? Ou estarão as linguagens implicadas nas próprias patogenias? E caso assim seja, a que níveis? Ao nível da simples compreensão de estados emocionais e psicossomáticos diferentes dos habituais? Ao nível da vivência subjectiva desses estados e das respostas sociais aos mesmos? Ou a níveis mais radicalmente etiológicos, constitutivos das próprias patogenias? Estas questões serão abordadas com base na leitura e na discussão de quatro monografias antropológicas que as exploram com detalhe etnográfico em contextos socioculturais bem diversos entre si.
Antropologia da Biomedicina (Professor Luís Quintais)
A cadeira de antropologia da biomedicina pretende explorar com os alunos um conjunto de tópicos que se prendem com uma das áreas de vanguarda do conhecimento antropológico. Fundamentalmente, trata-se de uma área de investigação que elege como espaço de interrogação na medicina ―ocidental‖ – a biomedicina, justamente -, ou seja, a teoria e a prática médicas das sociedades euro-americanas, teoria e prática que se encontram largamente disseminadas pelo mundo.
Um dos traços da biomedicina é a sua pretensão à sistematicidade. Os seus praticantes acreditam que o seu campo de acção detém uma autonomia. Por outras palavras, o seu exercício funda-se na ideia de que se trata de um campo de acção discreto, sem valências socio-culturais apreciáveis. Esta pretensão à sistematicidade e à neutralidade merece correcção. Ao assumirmos a relevância que os aspectos socio-culturais têm na teoria e prática biomédicas, estamos a assumir implícita e explicitamente que a biomedicina é um artefacto. O seu carácter artefactual faz supor que a biomedicina se funda numa matriz moral, simbólica, e social que importa deslindar. A biomedicina é, neste sentido, uma etnomedicina ou, de outro modo, um estilo de pensamento e acção socio-culturalmente moldado. É importante ainda, e neste sentido, tomar em linha de conta as extensões e recursividades que esta dimensão artefactual sugere.
Docente(s) responsável(eis)
Manuel João Rodrigues Quartilho
Métodos de Avaliação
Contínua
Trabalho de síntese: 100.0%
Bibliografia
Elsa Lechner (Org.) (2009). Histórias de Vida: Olhares Interdisciplinares. Edições Afrontamento.
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